Com o aumento do teletrabalho, as empresas estão reorganizando seus escritórios e eliminando gradualmente as estações de trabalho ali atribuídas.
Chegar ao "seu" escritório está com os dias contados.
A crise veio para lembrar os trabalhadores que o pequeno conjunto “mesa-computador-gavetas-cadeira ergonômica” não mais lhes pertence. Chega de pilhas de arquivos adormecidos, chega de pastas.
A partir de agora abriremos espaço para uma nova era.
A pandemia veio demonizar o teletrabalho. Agora é a hora de "flexibilidade" ou, para comemorar as palavras da vez, a “agilidade".
Regras de necessidade: trabalhar em casa traz grandes vantagens para a sociedade. Está sim em jogo a redução do tráfego de passageiros, mas também, e de maneira mais geral, a saúde das pessoas.
O simples fato de se poder escolher e optar entre o escritório ou casa tende a arejar a mente. As considerações econômicas também em breve surgirão : menos escritórios na cidade significa menos aluguel para as empresas, menos despesas e menos manutenção, já que o equipamento tende a ser muito reduzido.
E também, mas em outra escala, menos área ocupada na cidade, o que representa um ganho significativo que talvez tenha o potencial de reduzir a necessidade de mais obras. Nesta era de adensamento que hoje vivemos faz muito sentido estimular essa tendência.
Existe, sim, o risco e a sensação ruim de vermos os espaços comuns vazios, pandêmicos ou não.
Até porque não é assim tão fácil, uma vez que com o surgimento dos espaços ditos “abertos” , na década de 1980, os funcionários ocuparam , e com razão, seu próprio terreno, adornando-o com objetos pessoais , memórias e fotos de entes queridos, e esse seu lugar designado era-lhe oferecido no dia-a-dia do trabalho como um pequeno refúgio pessoal, e este refúgio está com seus dias contados.
Porém , o secto de trabalhadores de colarinho branco e de outros funcionários terciários terá que mudar suas representações.
Virar a página do escritório com sede própria e fixa, não vai ser tarefa das mais fáceis nem das mais engraçadas, exatamente porque existe o risco de vermos os espaços comuns vazios, sejam eles pandêmicos ou não.
Mas a vida sempre encontra um caminho, inclusive e sobretudo no trabalho.
Novas formas de contato surgirão entre as pessoas, talvez até menos espontâneas, talvez mais ritualizadas, mas ainda assim salutares e nutritivas.
Bom, agora é com os Sociólogos!
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Gilda Figueiredo Ferraz de Andrade é advogada militante, especialista em Direito Empresarial pela USP, membro do IASP e da Academia Paulista de Letras Jurídicas. É conselheira da AAT-SP, integra o Conjur (Conselho Superior de Altos Estudos Jurídicos) e o Cort (Conselho de Relações do Trabalho) da Fiesp e foi conselheira OAB-SP. Ocupa a cadeira nº 15 da Academia Paulista de Direito do Trabalho - APDT.
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Os artigos assinados e notícias reproduzidas com respectivas fontes não representam posições da Academia Paulista de Direito do Trabalho, refletindo a diversidade de visões relevantes abrangidas pelo tema e pela APDT.
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