Não será difícil compreender as razões da queda vertical de popularidade do presidente Jair Bolsonaro. Eleito em 2018 por legenda inexpressiva e imobilizado em leito hospitalar, vítima do punhal de tresloucado inimigo, ao tomar posse em 1º/1/2019 Bolsonaro traduzia as esperanças nacionais de que teria à frente do Poder Executivo alguém envolvido com sólido projeto de reconstrução e desenvolvimento.
A campanha fora uma espécie de torneio onde um dos menos cotados, entre os grandes competidores, era o capitão paraquedista e deputado federal. Desmentindo expectativas em torno de Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Álvaro Dias (Podemos), Bolsonaro foi ao segundo turno para derrotar Fernando Haddad, do arrogante Partido dos Trabalhadores, por expressiva diferença. Recebeu 57,8 milhões de votos, contra 47,04 dados ao candidato do PT. Chamava a atenção, entretanto, o número de abstenções, nulos e brancos que, totalizados, alcançavam a cifra de 42,3 milhões.
As primeiras dúvidas sobre o novo presidente surgem ao se observar a militarização do governo. Com as experiências do período autoritário, parte importante da sociedade civil começou a temer a volta de militares ao poder. Nada se tem contra as Forças Armadas, desde que limitadas ao exercício das atividades que lhe prescreve a Constituição da República: defesa da Pátria, garantia dos poderes constitucionais e defesa da lei e da ordem, por iniciativa de um dos Três Poderes.
A pandemia do Covid-19, chegada ao Brasil no final de 2019, expôs o lado perverso do presidente Bolsonaro. Por razões que apenas ele poderia elucidar, de imediato se incompatibilizou com o Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que fazia o que estava ao seu alcance, mas sofria com as dificuldades de enfrentar vírus mortal e desconhecido, que se alastrava pelo planeta com a velocidade da luz.
O desempenho frio do presidente Bolsonaro, durante a pandemia que matou, até esta data, 665 mil pessoas e infectou mais de 30,6 milhões, exigindo de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagens, motoristas de ambulâncias e dos serviços funerários, esforços acima das possibilidades humanas, é a razão primordial da perda vertiginosa de popularidade.
Entre todos os chefes de Estado, o presidente Bolsonaro foi o único a hostilizar a Organização Mundial da Saúde (OMS), declarar guerra à vacina, ao uso de máscara, ao isolamento social dentro dos limites do possível. No auge da pandemia não se emocionou, não visitou hospitais, não expressou uma palavra de solidariedade às vítimas e suas famílias.
No plano político, em mais de três anos de governo S. Exa. jamais proferiu um só discurso digno de registro histórico e de figurar em antologia. Está todos os dias diante de câmera de televisão, acompanhado do tradutor de libras, enviando à população mensagens agressivas, com as quais procura mobilizar a opinião pública contra adversários políticos, jornalistas, ministros do Poder Judiciário. A sistemática campanha contra a urna eletrônica soa como manobra tática para contestar o resultado das eleições, seja ele vencedor ou vencido.
O fracasso do governo pode ser aferido pelo número de ministros, de auxiliares e de presidentes de sociedades de economia mista exonerados. A Petrobrás tem sido um dos alvos preferidos. Jamais, contudo, apresentou fórmula racional, inteligente, factível, de reduzir ou deter o aumento dos preços de combustíveis.
Inflação, custo de vida, desemprego, falência da educação, da segurança, da saúde, dos transportes públicos, precária infraestrutura, compõem o cardápio de problemas que o Brasil enfrenta há mais de meio século. Nunca, porém, foram tão associados à imagem do governo como hoje acontece. O conjunto de inabilidades do presidente Bolsonaro, conhecidas desde os anos de deputado federal, faz do governo alvo fácil para a oposição, encarnada na figura de Luís Inácio Lula da Silva, cujos defeitos são conhecidos, mas de certo modo neutralizados pela capacidade de iludir com palavras.
Fazer de ruidosas mobilizações de motociclistas, o cavalo de batalha da campanha eleitoral, com o indicativo de votos em permanente declínio, basta para revelar a falta de sensibilidade e de competência do candidato do Partido Liberal, a 9ª legenda de acidentada carreira política.
O mais perigoso adversário de Bolsonaro não é Lula, tampouco são os partidos de esquerda. Se for derrotado, o responsável deverá ser procurado no segundo andar do Palácio do Planalto.
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